segunda-feira, 18 de agosto de 2014

RELATO ...MUITO TRISTE

 Eram quase 9 horas de uma manhã fria e feia. Muita gente correndo e principalmente pedalando na USP. Para um sábado tristonho como aquele, gente demais. Já entrei correndo pelo Campus, vim de casa. Passei pelo retão do portão 1, dei uma passada no QG da Run & Fun, tomei água, passei de novo pelo retão para abrir a primeira das duas voltas que eu daria.
      Uns cinco minutos depois da minha passagem o lugar virou cenário de guerra. O pedreiro Luiz Antônio Machado acelerou seu Toyota Corolla e fez um strike na pista usada pelos corredores. Acertou seis pessoas e só parou em uma árvore na calçada. Tentou dar ré para fugir e foi preso ali mesmo.
      Quando estava completando a primeira volta já fui avisado por um corredor que vinha na direção contrária. "Foi muito feio", ele me resumiu. Não era exagero. Seis pessoas no chão. Sangue demais. Tinha rosto arrebentado, dentes todos quebrados, fratura exposta. O helicóptero chegaria logo depois para levar o analista de sistemas Álvaro Teno e a médica Eloísa Pires do Prado, os dois casos mais graves.
      Conversei com os policiais. Um deles me disse que o motorista não estava bêbado, mas "muito bêbado". O bafômetro foi na lua. Luiz disse que dormiu na direção. Estava rindo. Alguns corredores e ciclistas queriam bater no sujeito.
       O que estava ruim iria piorar. Um pouco depois chegou a notícia que um dos corredores tinha morrido. Álvaro Teno era uma figura rara. Eu o conhecia de vista e "de lenda". Tinha 2h43min05 na maratona, só isso. Vencia as provas em sua categoria, monstro. No Clube Paineiras, era inspiração para a turma da corrida. Quem não queria chegar aos 67 anos na forma dele? Contam-me os amigos que ele puxava os iniciantes. Além da alta performance, generosidade era outra de suas marcas. O que escreveu em seu perfil no twitter resume bem sua filosofia de vida.  "Amo ajudar as pessoas a praticarem esportes para que tenham uma qualidade de vida melhor e que possam ver-me terminando uma maratona aos 100 anos". Não deu tempo.
      Teria mais para falar sobre a USP, mas não hoje. Fica a torcida pela médica Eloísa que trocou de lado e virou paciente. Muitas fraturas e cirurgias pela frente. Precisará fazer força para se recuperar nessa nova e inesperada maratona.

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